domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Quadro...

Quando alguém entra no Terrace, não consegue deixar de reparar no quadro que lá se encontra exposto.  Consegui marcar um tempinho livre na preenchida agenda da sua autora para falarmos sobre ele, mesmo antes de se dirigir para a sessão de danças de salão a que também se dedica, em mais um dos seus muitos desafios de vida.
Chama-se Filipa Oliveira, nasceu em Coimbra (em 1966) e apesar de já morar há dois anos em Melides, já teve residência em variadíssimos locais, como Figueira da Foz, Santiago do Cacém, Vila Nova de Santo André, Lisboa, Almodôvar, Castro Verde, Aljustrel e Setúbal.  Actuando técnica e profissionalmente nas mais diversificadas possibilidades de intervenção social, tem na sinestesia um aliado emocionante que a faz atribuir a Coimbra o grená, à Figueira da Foz o amarelo alaranjado e à sua própria idade uma cor tão estranha que nem gostaria de a trazer vestida.
Começou isto das artes ainda em Coimbra, aos 3 aninhos, quando escolhia superfícies facilmente camufláveis (como o tampo das mesas, sob as toalhas, ou as paredes atrás dos cortinados) para dar asas à sua imaginação.  Hoje, entendendo que a arte é omnipresente, não foge às responsabilidades e sente-se motivada para várias ações que lhe estão associadas, numa lógica associativa que a leva a integrar projectos como a associação Mil Lides (em Melides, na promoção do património cultural) ou mesmo a AJAGATO (numa recente missão de produzir a próxima Mostra de Teatro de Santo André).
Sente que a arte lhe acontece naturalmente, como fazer um amigo, ou admirar um pôr-do-sol. Por isso não entende os limites concetuais que constrangem um artista a ser uma coisa só, por isso não tem uma forma artística preferida, por isso não tem uma cor eleita, por isso pinta, esculpe e fotografa, por isso gosta de curtas-metragens, música, dança, etc.
Referindo o suíço Alberto Giacometti e o catalão Antoni Tàpies, como alguns nomes de referência, prefere trabalhar emoções e tem no protótipo das ondas o exemplo da perfeição formal, por conseguirem sempre espantá-la como da primeira vez que teve consciência de as admirar, e por se reconstruírem constantemente em iguais beleza e dimensão.  Inspira-se figurativamente no que chama de forças maiores: os fantasmas, as sombras, os anjos; formas densas de intensidade emocional, quase como uma necessidade de canalizar energias, tantas vezes retiradas de momentos menos bons da vida. 
Identifica o período de 1997 a 2002 como um dos seus períodos mais criativos, sendo o quadro exposto no Terrace fruto dessa fase.  Estava, contou-me, a montar uma exposição em Castro Verde com figuras sobrenaturais e uma das peças representava uma mãe com um filho morto nos braços (de certa forma, uma “Pietá” revisitada).  Enquanto o fazia sentiu necessidade de criar uma espécie de altar que iluminasse esse momento de sofrimento maior.  Rapidamente, num espaço inferior a 48 horas, com lâmpadas partidas (cortes nos dedos) e a intervenção de um secador para a tinta, nascia o nosso quadro. 
Apesar do quadro ter nascido como um elemento para um conjunto, autonomizou-se e já esteve várias vezes exposto sozinho, sempre com reações muito positivas.  Sente que o quadro tem muito a ver consigo, no sentido em que tem bastante muita energia e é muito persistente, estando lá sempre a pulsar, como um eterno Big Bang. 
Perguntei-lhe o que entendia como um momento de glória.  Referiu-se a este quadro como um desses momentos, por ter proporcionado prazer a muita gente diferente.  Disse-me ainda que lhe interessava que as coisas que fazia, fossem uma ação de formação, uma palestra, uma fotografia, ou um quadro, alterassem positivamente a vida das pessoas e quando isso acontecia então, sim, seria um momento de glória.
Dois suplementos:
best20 + lugares e datas

3 comentários:

  1. Sim! Sem Dúvida Uma Enorme Luz no Fundo do Túnel!
    Bem Haja FILIPA!
    Beijinho Grande

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  2. E UMA PRESENÇA FORTE A DO QUADRO. CONHEÇO A FILIPA, MAS NUNCA TINHA LIDO NADA SOBRE ELA. MTO INTERESSANTE. PARABENS AO TERRACE POR DIVULGAREM OS NOSSOS ARTISTAS.
    ACHEI GRACA A HISTORIA DAS DANCAS DE SALAO. E MESMO DA FILIPA ANDAR SEMPRE METIDA EM TUDO.

    UMA CLIENTE AINDA NAO MUITO HABITUAL

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  3. Este quadro é sem dúvida um momento de glória!É comovente!Assim como a autora o é!
    Margarida

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